Ao longo da sua história, os cristãos procuraram traduzir o saber, que desconhece, em figuras ilustrativas, explanando imagens do « céu » que ficam sempre aquém daquilo que conhecemos precisamente só por negação, através de um não-conhecimento. Todas estas tentativas de representação da esperança deram a muitos, no decorrer dos séculos, a coragem de viverem segundo a fé e, assim, abandonarem inclusivamente os seus « hyparchonta », os bens materiais para a sua existência. Baseando-se na teologia dos Padres em toda a sua amplidão, pôde demonstrar que a salvação foi sempre considerada como uma realidade comunitária. A « redenção » aparece precisamente como a restauração da unidade: « Para poder formar parte deste povo e [...] viver eternamente com Ele, recordemos que “o fim dos mandamentos é promover a caridade, que procede de um coração puro, de uma consciência recta e de uma fé sincera” (1 Tm 1,5) ». Coerentemente, o pecado é entendido pelos Padres como destruição da unidade do género humano, como fragmentação e divisão. Babel, o lugar da confusão das línguas e da separação, âmbito deste « nós ».
AG
Estudar filosofia é deixar que nos revelem o impacto que uma mão cheia de homens e os seus pensamentos tem na maneira como vivemos, encaramos a vida e somos, é um tirar chão debaixo dos pés. Pequenas descobertas, pequenas certezas, pequenas ideias, foram tidas, mantidas e desmentidas milhares de anos antes de ser chamado à existência, e até as mais mirabolantes intuições já contam muito tempo. É um espanto. Problemas que eram e ainda são, que ganham e perdem peso através da narração.
Podemos ver o ser descobrir-se só mirando o ente infinito, conquistando-o perante e em cada coisa, o ente finito ora em crise por descobrir Deus, ora posto em crise ao distanciar-se de Deus, e o repouso. A procura do contínuo permanente, a busca do que é de verdade, do que fica, a luta com a própria solidão do ser que em si existe só. Depende de uma deliberada decisão de perseguir outra coisa, actividade que tendo repercussões externas é intrínseca, é busca interior. O reconhecer-se como ser-criado e não ocasionado, o constatar a criação como emanação, faz com que as montanhas em que nos movemos se tornem profundamente diferentes.
Dois espantos diferentes: um perante tudo o que se mexe e se vai revelando à medida que o pensamento o encontra e o desvenda; outro perante Alguém, que lhe dá sentido ao mesmo tempo que o interroga, que vai revelando à medida que vamos questionando, um saber que se conquista mas que é também dom.
AG
A fé é a ( hypostasis) substância das coisas que se esperam (Hb 10);
A fé é prova das coisas que não se vêem (Hb 10).
A fé é uma predisposição constante do espírito, em virtude da qual a vida eterna tem início em nós e a razão é levada a consentir naquilo que não vê (Tomás de Aquino).
O conceito de «substância» é modificado para significar que pela fé, que poderíamos dizer «em gérmen», «em embrião», «em substância», já estão presentes em nós as coisas que se esperam: a totalidade, a vida verdadeira. E precisamente porque a coisa em si já está presente, esta presença daquilo que há-de vir cria também certeza: esta « coisa » que deve vir ainda não é visível no mundo externo (não « aparece »), mas pelo facto de a trazermos, como realidade incoativa (Que dá ou origina um começo. = INICIAL) e dinâmica dentro de nós, surge já agora uma certa percepção dela. No século XX, na Alemanha a exegese católica interpretou a fé como: permanecer firmes naquilo que se espera, estar convencidos daquilo que não se vê.
A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão-de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma « prova » das coisas que ainda não se vêem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro « ainda-não ».
Carta aos Hebreus versículo 34 temos a definição de uma fé que é acompanhada de esperança e a prepara. No texto, o autor fala aos crentes que viveram a experiência da perseguição, dizendo-lhes: « Não só vos compadecestes dos encarcerados, mas aceitastes com alegria a confiscação dos vossos bens (propriedades – substância da qual se necessita para viver) sabendo que possuís uma riqueza melhor e imperecível ».
Não é possível deixar de ver a ligação existente entre estas duas espécies de « substância », entre a sustentação ou base material e a afirmação da fé como « base », como « substância » que permanece. A fé confere à vida uma nova base, um novo fundamento, sobre o qual o homem se pode apoiar, e consequentemente, o fundamento habitual, ou seja a confiança na riqueza material, relativiza-se. Cria-se uma nova liberdade. Esta nova liberdade ficou patente no martírio, quando as pessoas se opuseram à prepotência da ideologia e dos seus órgãos políticos e, com a sua morte, renovaram o mundo. Mas não é só no martírio... Aquela manifestou-se sobretudo nas grandes renúncias a começar dos monges da antiguidade até Francisco de Assis e às pessoas do nosso tempo que, nos Institutos e Movimentos religiosos actuais, deixaram tudo para levar aos homens a fé e o amor de Cristo, para ajudar as pessoas que sofrem no corpo e na alma.
Ficou demonstrado que esta nova vida possui realmente « substância » e é « substância » que suscita vida para os outros. Para nós, a promessa de Cristo não é uma realidade apenas esperada, mas uma verdadeira presença: Ele é realmente o « filósofo » e o « pastor » que nos indica o que seja e onde está a vida.
Irmãos, temos ampla confiança de podermos entrar no santuário eterno em virtude do sangue de Jesus, pelo caminho novo e vivo que nos abriu através do véu, isto é, de sua carne (Hb 10, 19-20)
AG
Apelo aos que vivem e comungam os problemas dos mais fracos. Apelo aos padres. Já basta de sacrificar os pobres!
Todos adivinhávamos há muito que os tempos que vivemos seriam de dificuldades. Já há algum tempo que a crise de que todos falamos dava sinais de se agudizar de modo absolutamente preocupante. Também todos sabemos que, em momentos de depressão económica, há todo um conjunto de restrições que se impõem, ora por iniciativa privada de cada um ora por intervenção do Estado.
Acontece, porém, que, nas atuais circunstâncias, as chamadas medidas de austeridade são medidas cegas que estão a ter um efeito devastador para a dignidade das pessoas. Para lá do que dizem as estatísticas sobre as quebras de vendas aqui e acolá, há inúmeras situações familiares totalmente dramáticas. Ao imparável crescimento do desemprego soma-se uma imoral subida de impostos que deixa até as famílias ainda empregadas em condição de asfixia social.
Cheios de demagogia, os discursos dos governantes são insensíveis ao desespero que se vive diariamente em Portugal. A administração da coisa pública não é tarefa fácil, mas o reconhecimento dessa dificuldade não pode permitir a legitimação de ações injustas que só promovem o empobrecimento económico e, por conseguinte, o depauperamento cultural e social.
Talvez só os economistas estejam verdadeiramente habilitados para propor o que é ou não adequado à longevidade financeira e económica de um país. Mas todos temos o dever de nos empenharmos civicamente pela participação num processo que afeta gravemente a qualidade de vida de todos nós. Por isso, apelo a todos os que se identificam com estas preocupações que se manifestem no sentido de unirmos vozes e juntos interpelarmos os governantes. A superação de uma crise económica não pode comprometer a dignidade de ninguém nem estrangular os mecanismos de solidariedade que muitos nos esforçámos por criar.
Agradeço que difundam este apelo pelas vossas páginas e que partilhem os vossos comentários para que a nossa interpelação seja um manifesto de cidadania ativa e comprometida, dever de todos os cristãos.
Pe. João Paulo Sarabando Marques
Sem Deus, o homem não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem é. Perante os enormes problemas do desenvolvimento dos povos que quase nos levam ao desânimo e à rendição, vem em nosso auxílio a palavra do Senhor Jesus Cristo que nos torna cientes deste dado fundamental: « Sem Mim, nada podeis fazer » (Jo 15, 5), e encoraja: « Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo » (Mt 28, 20). Diante da vastidão do trabalho a realizar, somos apoiados pela fé na presença de Deus junto daqueles que se unem no seu nome e trabalham pela justiça. Paulo VI recordou-nos, na Populorum progressio, que o homem não é capaz de gerir sozinho o próprio progresso, porque não pode por si mesmo fundar um verdadeiro humanismo. Somente se pensarmos que somos chamados, enquanto indivíduos e comunidade, a fazer parte da família de Deus como seus filhos, é que seremos capazes de produzir um novo pensamento e exprimir novas energias ao serviço de um verdadeiro humanismo integral. Por isso, a maior força ao serviço do desenvolvimento é um humanismo cristão que reavive a caridade e que se deixe guiar pela verdade, acolhendo uma e outra como dom permanente de Deus. A disponibilidade para Deus abre à disponibilidade para os irmãos e para uma vida entendida como tarefa solidária e jubilosa. Pelo contrário, a reclusão ideológica a Deus e o ateísmo da indiferença, que esquecem o Criador e correm o risco de esquecer também os valores humanos, contam-se hoje entre os maiores obstáculos ao desenvolvimento. O humanismo que exclui Deus é um humanismo desumano. Só um humanismo aberto ao Absoluto pode guiar-nos na promoção e realização de formas de vida social e civil — no âmbito das estruturas, das instituições, da cultura, do ethos — preservando-nos do risco de cairmos prisioneiros das modas do momento. É a consciência do Amor indestrutível de Deus que nos sustenta no fadigoso e exaltante compromisso a favor da justiça, do desenvolvimento dos povos, por entre êxitos e fracassos, na busca incessante de ordenamentos rectos para as realidades humanas. O amor de Deus chama-nos a sair daquilo que é limitado e não definitivo, dá-nos coragem de agir continuando a procurar o bem de todos, ainda que não se realize imediatamente e aquilo que conseguimos actuar — nós e as autoridades políticas e os operadores económicos — seja sempre menos de quanto anelamos. Deus dá-nos a força de lutar e sofrer por amor do bem comum, porque Ele é o nosso Tudo, a nossa esperança maior. O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus em atitude de oração, cristãos movidos pela consciência de que o amor cheio de verdade — caritas in veritate –, do qual procede o desenvolvimento autêntico, não o produzimos nós, mas é-nos dado. Por isso, inclusive nos momentos mais difíceis e complexos, além de reagir conscientemente devemos sobretudo referir-nos ao seu amor. O desenvolvimento implica atenção à vida espiritual, uma séria consideração das experiências de confiança em Deus, de fraternidade espiritual em Cristo, de entrega à providência e à misericórdia divina, de amor e de perdão, de renúncia a si mesmo, de acolhimento do próximo, de justiça e de paz. Tudo isto é indispensável para transformar os « corações de pedra » em « corações de carne » (Ez 36, 26), para tornar « divina » e consequentemente mais digna do homem a vida sobre a terra. Tudo isto é do homem, porque o homem é sujeito da própria existência; e ao mesmo tempo é de Deus, porque Deus está no princípio e no fim de tudo aquilo que tem valor e redime: « quer o mundo, quer a vida, quer a morte, quer o presente, quer o futuro, tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus » (1 Cor 3, 22-23). A ânsia do cristão é que toda a família humana possa invocar a Deus como o « Pai nosso ».
Juntamente com o Filho unigénito, possam todos os homens aprender a rezar ao Pai e a pedir-Lhe, com as palavras que o próprio Jesus nos ensinou, para O saber santificar vivendo segundo a sua vontade, e depois ter o pão necessário para cada dia, a compreensão e a generosidade com quem nos ofendeu, não ser postos à prova além das suas forças e ver-se livres do mal (cf. Mt 6, 9-13). No final, apraz-me formular os seguintes votos com palavras do Apóstolo tiradas da sua Carta aos Romanos: « Que a vossa caridade seja sincera, aborrecendo o mal e aderindo ao bem. Amai-vos uns aos outros com amor fraternal, adiantando-vos em honrar uns aos outros» (12, 9-10). Que a Virgem Maria, proclamada por Paulo VI Mater Ecclesiæ e honrada pelo povo cristão como Speculum Iustitiæ e Regina Pacis, nos proteja e obtenha, com a sua intercessão celeste, a força, a esperança e a alegria necessárias para continuarmos a dedicar-nos com generosidade ao compromisso de realizar o « desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens ».
AG
Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público
Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
Interessa-me a saúde mental dos portugueses porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fico com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.
Pedro Afonso
Médico psiquiatra
Terminei o meu comentário ao texto que vos propus falando de como podem os pais educar os filhos se não se entendem entre si.
Hoje proponho-vos outro texto comentado pelo professor João César das Neves, de um catedrático de Antropologia em Harvard: «Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»
Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono.
As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema.
Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»
O problema central está na família e na escola. «Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas.
Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»
Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma: «O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas.
A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.»
O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. «Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.» Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. «O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam.
É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.
AG
O documento conciliar Inter Mirifica requeria já dos agentes pastorais uma formação técnica e apostólica para o seu uso: “para prover às necessidades acima indicadas hão-de formar-se oportunamente sacerdotes, religiosos e também leigos, que possuam a devida perícia nestes meios e possam dirigi-los para o fim do apostolado.
Em primeiro lugar, devem ser instruídos os leigos na arte, doutrina e costumes, multiplicando o número das escolas, faculdades e institutos, onde os jornalistas, autores cinematográficos, radiofónicos, de televisão e demais interessados possam adquirir uma formação íntegra, penetrada de espírito cristão, sobretudo no que toca à doutrina social da Igreja.
Também os autores cénicos hão-de ser formados e ajudados para que sirvam convenientemente, com a sua arte, a sociedade humana. Por último, hão-de preparar-se cuidadosamente críticos literários, cinematográficos, radiofónicos, da televisão e outros meios, que dominem perfeitamente a sua profissão, preparados e estimulados para emitir juízos nos quais a razão moral apareça sempre na sua verdadeira luz” (IM,15). E a mesma instrução Pastoral Communio et Progressio assinala os diferentes aspectos que deve contemplar a formação integral dos agentes pastorais no campo das comunicações sociais: aspecto teológico, moral e pastoral (cf PP 108).
Em jeito de comentário a este texto apetece-me dizer que diversas pessoas da Igreja, Povo de Deus, dos mais altos cargos até aos simples leigos tomam posições públicas contra outras pessoas que se empenham na divulgação da mensagem cristã através dos meios de comunicação social. Colegas da mesma vocação desprezam, espezinham, desprestigiam, humilham, menosprezam os outros que seguem o caminho da divulgação da Boa Nova pelos mass média à disposição.
Também é verdade que as pessoas que tomam semelhante posição são pessoas que não são capazes de enviar um simples email ou mesmo escrever um simples texto no word e enviá-lo.
Aqui deixo a minha mágoa. Como podem os pais educar os filhos se não se entendem entre si. Como podem os remadores chegar a bom porto se uns remam ao contrário de outros.
Caros cristãos praticantes assim temos a nossa hierarquia eclesiástica. Tenham uma boa reflexão!
AG
TEMPO PARA O ESSENCIAL
Passamos a vida à espera de ter tempo...
E o pior é que o tempo que esperamos, é tempo para o essencial...
Sim,
Tempo para repensar a vida ou para rezar;
Tempo para responder às cartas ou para visitar um doente;
Tempo para dialogar problemas ou para ouvir os outros;
Tempo para descansar ou para programar calmamente o futuro...
Passamos a vida à espera de ter tempo, ou então, a trabalhar afadigadamente para depois ter tempo.
Mas, tanto nos viciamos nesta lufa-lufa
Que das duas uma:
Ou caímos de cansados,
Ou quando esse tempo vem
Já não sabemos senão esgotá-lo na rotina que criámos.
O tempo não é inesgotável
E foi-nos dado para o essencial;
Importa começar por abrir nele,
No tempo que hoje nos é dado,
Clareiras destinadas ao essencial,
Porque o resto é que pode esperar.
Se colocamos esse essencial
No horizonte longínquo dos nossos ideais,
Corremos o risco dramático de não o chegar a viver
E a nossa existência seria uma oportunidade perdida.
in Livro "Jóias de Sabedoria" - Carlos Paes, Padre e Prof. Universitário