A fé é a ( hypostasis) substância das coisas que se esperam (Hb 10);
A fé é prova das coisas que não se vêem (Hb 10).
A fé é uma predisposição constante do espírito, em virtude da qual a vida eterna tem início em nós e a razão é levada a consentir naquilo que não vê (Tomás de Aquino).
O conceito de «substância» é modificado para significar que pela fé, que poderíamos dizer «em gérmen», «em embrião», «em substância», já estão presentes em nós as coisas que se esperam: a totalidade, a vida verdadeira. E precisamente porque a coisa em si já está presente, esta presença daquilo que há-de vir cria também certeza: esta « coisa » que deve vir ainda não é visível no mundo externo (não « aparece »), mas pelo facto de a trazermos, como realidade incoativa (Que dá ou origina um começo. = INICIAL) e dinâmica dentro de nós, surge já agora uma certa percepção dela. No século XX, na Alemanha a exegese católica interpretou a fé como: permanecer firmes naquilo que se espera, estar convencidos daquilo que não se vê.
A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão-de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma « prova » das coisas que ainda não se vêem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro « ainda-não ».
Carta aos Hebreus versículo 34 temos a definição de uma fé que é acompanhada de esperança e a prepara. No texto, o autor fala aos crentes que viveram a experiência da perseguição, dizendo-lhes: « Não só vos compadecestes dos encarcerados, mas aceitastes com alegria a confiscação dos vossos bens (propriedades – substância da qual se necessita para viver) sabendo que possuís uma riqueza melhor e imperecível ».
Não é possível deixar de ver a ligação existente entre estas duas espécies de « substância », entre a sustentação ou base material e a afirmação da fé como « base », como « substância » que permanece. A fé confere à vida uma nova base, um novo fundamento, sobre o qual o homem se pode apoiar, e consequentemente, o fundamento habitual, ou seja a confiança na riqueza material, relativiza-se. Cria-se uma nova liberdade. Esta nova liberdade ficou patente no martírio, quando as pessoas se opuseram à prepotência da ideologia e dos seus órgãos políticos e, com a sua morte, renovaram o mundo. Mas não é só no martírio... Aquela manifestou-se sobretudo nas grandes renúncias a começar dos monges da antiguidade até Francisco de Assis e às pessoas do nosso tempo que, nos Institutos e Movimentos religiosos actuais, deixaram tudo para levar aos homens a fé e o amor de Cristo, para ajudar as pessoas que sofrem no corpo e na alma.
Ficou demonstrado que esta nova vida possui realmente « substância » e é « substância » que suscita vida para os outros. Para nós, a promessa de Cristo não é uma realidade apenas esperada, mas uma verdadeira presença: Ele é realmente o « filósofo » e o « pastor » que nos indica o que seja e onde está a vida.
Irmãos, temos ampla confiança de podermos entrar no santuário eterno em virtude do sangue de Jesus, pelo caminho novo e vivo que nos abriu através do véu, isto é, de sua carne (Hb 10, 19-20)
AG