Estudar filosofia é deixar que nos revelem o impacto que uma mão cheia de homens e os seus pensamentos tem na maneira como vivemos, encaramos a vida e somos, é um tirar chão debaixo dos pés. Pequenas descobertas, pequenas certezas, pequenas ideias, foram tidas, mantidas e desmentidas milhares de anos antes de ser chamado à existência, e até as mais mirabolantes intuições já contam muito tempo. É um espanto. Problemas que eram e ainda são, que ganham e perdem peso através da narração.
Podemos ver o ser descobrir-se só mirando o ente infinito, conquistando-o perante e em cada coisa, o ente finito ora em crise por descobrir Deus, ora posto em crise ao distanciar-se de Deus, e o repouso. A procura do contínuo permanente, a busca do que é de verdade, do que fica, a luta com a própria solidão do ser que em si existe só. Depende de uma deliberada decisão de perseguir outra coisa, actividade que tendo repercussões externas é intrínseca, é busca interior. O reconhecer-se como ser-criado e não ocasionado, o constatar a criação como emanação, faz com que as montanhas em que nos movemos se tornem profundamente diferentes.
Dois espantos diferentes: um perante tudo o que se mexe e se vai revelando à medida que o pensamento o encontra e o desvenda; outro perante Alguém, que lhe dá sentido ao mesmo tempo que o interroga, que vai revelando à medida que vamos questionando, um saber que se conquista mas que é também dom.
AG